Justiça mantém prisão de sobrinha que levou tio morto para pegar empréstimo; 'Ação repugnante e macabra', diz juíza

  • 18/04/2024
(Foto: Reprodução)
Decisão foi tomada em audiência de custódia. Érika de Souza Vieira Nunes responde por vilipêndio de cadáver e por furto. Mulher presa por levar idoso morto a agência bancária passa por audiência de custódia A Justiça do Rio manteve, após audiência de custódia nesta quinta-feira (18), a prisão de Érika de Souza Vieira Nunes, por suspeita de levar o tio morto a atendentes de um banco na Zona Oeste do Rio. À polícia, Érika disse ser sobrinha e cuidadora de Paulo Roberto Braga. Ela responde por vilipêndio de cadáver e por furto. Em sua decisão, a juíza Rachel Assad da Cunha definiu que a ação de Érika foi "repugnante e macabra". A magistrada sustentou que a situação não se resume a definir o exato momento da morte, mas sim pela situação vexatória a qual o idoso estava sendo exposto. Assad questiona se, nas condições em que estava, Paulo Roberto teria como concordar com um empréstimo, ainda que vivo estivesse. "A questão é definir se o idoso, naquelas condições, mesmo que vivo estivesse, poderia expressar a sua vontade. Se já estava morto, por óbvio, não seria possível. Mas ainda que vivo estivesse, era notório que não tinha condições de expressar vontade alguma, estando em total estado de incapacidade." Érika de Souza Vieira Nunes em foto do sistema prisional Reprodução "Tudo a indicar que a vontade ali manifestada era exclusiva da custodiada, voltada a obter dinheiro que não lhe pertencia, mantendo, portanto, a ilicitude da conduta, ainda que o idoso estivesse vivo em parte do tempo", escreveu a juíza. "Era perceptível a qualquer pessoa que aquele idoso na cadeira de rodas não estava bem. Diversas pessoas que cruzaram com a custodiada e o Sr. Paulo ficaram perplexos com a cena, mas a custodiada teria sido a única pessoa a não perceber?", questiona a magistrada. Em seguida, a juíza destaca que Érika afirma ser cuidadora do idoso, mas não se preocupou com seu estado de saúde na hora de levá-lo ao banco. "Assim, caberá à instrução probatória verificar, ainda, se a própria conduta não teria contribuído ou acelerado o evento morte, por submeter o idoso a tanto esforço físico, em momento que evidentemente necessitava de repouso e cuidados", completa ela. LEIA TAMBÉM: Morto em banco: veja a cronologia do caso Depoimentos A polícia segue investigando o caso do idoso de 68 anos. Alguns depoimentos, colhidos pela polícia, e declarações de pessoas envolvidas no caso para jornalistas mostram algumas versões sobre o fato. Idoso morto em banco: veja o que dizem os depoimentos Motorista de aplicativo O motorista de aplicativo que levou Érika e Paulo Roberto para um shopping perto do banco disse à polícia que, quando chegou ao endereço deles, em Bangu, Érika estava na calçada esperando o carro. Também afirmou que Érika pediu ajuda a um rapaz para retirar o idoso de dentro da residência. O motorista disse que não ajudou a embarcar Paulo Roberto no carro e que Érika, o rapaz e as duas filhas dela colocaram o idoso sentado no banco do carona. Quando chegaram ao shopping, o motorista afirmou que ficou esperando Érika ir buscar uma cadeira de rodas no subsolo. Enquanto isso, ele ficou conversando com um funcionário do shopping no estacionamento. Segundo ele, quando Érika voltou, chegou a segurar a cadeira de rodas para que ela conseguisse retirar Paulo Roberto do carro. Ele também disse que, quando foi retirado do carro por Erika, ao chegar ao shopping próximo à agência bancária, Paulo segurou na maçaneta do carro, o que indica que ele estava vivo. De acordo com o motorista, após os dois deixarem o carro, ele foi embora. As imagens de câmeras de segurança do estacionamento do shopping desmentem um ponto do depoimento do motorista: o vídeo mostra que ele ajuda Érika a segurar o idoso e a colocá-lo na cadeira de rodas (veja abaixo). No depoimento, ele não diz se percebeu algo de estranho durante a viagem, nem o fato de o idoso não se mexer tanto quando entrou no carro, ou na hora de sair. Vídeo mostra quando idoso é tirado de carro de app e colocado em cadeira de rodas Gerente do banco A gerente do banco onde foram feitas as imagens de celular de Érika falando com as atendentes enquanto estava com o idoso também prestou depoimento. Ela disse que viu uma mulher acompanhada de um idoso na cadeira de rodas, que aparentava estar muito debilitado, e que foi entender do que se tratava. Mulher leva morto em cadeira de rodas para sacar empréstimo de R$ 17 mil A gerente também disse que, ao perceber que o idoso não estava bem, pediu a Érika que o tio dela assinasse um papel antes de pegar o dinheiro e percebeu que, durante todo o processo, Paulo Roberto não respondia, e tinha aspecto pálido. Diante da situação, o Samu foi chamado. Médico do Samu O médico do Samu afirmou que, ao fazer a reanimação cardiorrespiratória, verificou que Paulo Roberto estava morto, e que o corpo já apresentava manchas que normalmente aparecem só depois de duas horas de um óbito. Funcionários do banco Em áudios enviados em grupos de WhatsApp, funcionários do banco afirmam que desde o momento em que Érika e Paulo Roberto entraram na agência, já havia a percepção de que alguma coisa estava errada. "Eu abri a porta, para sair. A menina dos serviços gerais falou assim: 'parece que o homem tá morto!'. Eu falei assim: 'quem, gente?'. Aí ela: 'Ali!'. E apontou. E a mulher tentando levantar a cabeça dele, pegando na mão dele, pegando para ele assinar, só que ele nem se mexia", relatou uma testemunha. A sobrinha Érika também prestou depoimento na terça-feira. Disse que o tio ficava sob seus cuidados e que, depois de receber alta de uma internação em uma UPA na segunda-feira, Paulo Roberto havia dito a ela que queria pedir um empréstimo de R$ 17 mil para comprar uma televisão e fazer uma reforma na casa dele. Disse ainda que foi ao banco com ele para ajudar e que, quando saíram de casa, Paulo Roberto estava consciente, mas debilitado. Segundo Érika, quando chegaram ao banco, o tio parou de responder. Afirmou que tentou acordá-lo, mas não conseguiu. O mototaxista O mototaxista que ajudou Érika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, a colocar o idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, no carro do motorista de aplicativo disse, em depoimento, que ele estava vivo na hora que foi colocado no veículo para ir até a agência bancária no calçadão de Bangu, na Zona Oeste do Rio, na tarde de terça-feira (16). No depoimento, feito na tarde de quarta-feira, o mototaxista disse que foi chamado por Erika para ir até sua casa e ajudar a colocar Paulo Roberto no carro, e que percebeu que ele ainda respirava e tinha força nas mãos. Isso teria acontecido, segundo ele, por volta das 12h20. Ele afirma que, quando entrou na casa, viu Paulo Roberto deitado na cama. Defesa Em entrevistas, além de sustentar que Paulo chegou vivo à agência, a advogada de Érika, Ana Carla de Souza Correa, afirma que a cliente tem um laudo psiquiátrico que foi apresentado na delegacia. “A senhora Érika faz um tratamento psicológico, toma remédios controlados. Fez tratamento bariátrica e precisa de tratamento psicológico”, afirmou. Advogada de mulher que estava com morto em banco diz que idoso morreu na agência Questionada se Érika pode não ter percebido que Paulo Roberto estava morto na agência bancária, ela disse: “Acredito que ela estava em surto naquele momento por causa dos medicamentos. Ela estava visivelmente alterada”. Delegado e IML Também em declarações à imprensa, o titular da 34ª DP (Bangu), o delegado Fábio Luiz de Souza afirmou que acredita que o idoso já estava morto havia pelo menos 2 horas, que não estava sentado quando morreu e citou exames. "Não dá pra dizer o momento exato da morte. Foi constatado pelo Samu que havia livor cadavérico. Isso só acontece a partir do momento da morte, mas só é perceptível por volta de duas horas após a morte", explicou Fábio. Já o perito do Instituto Médico Legal (IML) afirma que o óbito pode ter ocorrido entre 11h30 e 14h30, mas que ele não tem elementos seguros para dizer, do ponto de vista técnico e científico, que a vítima morreu no trajeto para a agência ou em seu interior.

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/04/18/mulher-idoso-morto-banco-audiencia-de-custodia.ghtml


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